P039 – NIAGARA – Pais & Filhos
Vinyl LP / Digital
Written and produced by Niagara;
Mastered by Tó Pinheiro da Silva, Artwork by Márcio Matos;
Digital release: May, 2020;
Physical release: December, 2020.
VINYL/DIGITAL: Order from us
A1 – 21:44
A2 – Herdeiros
A3 – Tília
A4 – Ano-B
B1 – 46 x 92m
B2 – Ano-C
B3 – Ano-A
PRESS RELEASE (May 1, 2020)
As a sort of introductory discharge, “21:44” announces yet another path in Niagara’s sonic journey. No two records sound alike, as the trio clearly differentiates creative processes and moods. As often before, the tracks arise from countless hours of live jams where those processes are implemented.
The old school ancestral vibe in “Tília” sends the listener back to “Forbidden Planet” territory, not only because of the vintage sci fi feel but also conducive to the kind of psychological turmoil the 1956 movie explores.
“Ano-A”, “Ano-B” and “Ano-C” stem from the same root and all use acoustic percussion to add more organic life to the liquid nature of the music. The resulting sound is simultaneously pregnant with possibilities and fully conscious of a carefully designed map, leaving us adrift in the ebb and flow.
History is dotted with examples of “spontaneous music”, and Niagara themselves promote and incorporate an artificial reality capable of self regenerating and plotting unfamiliar courses. There’s something going on.
Vinyl LP; individually hand-painted sleeve, 350 copies available for the world.
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É verdade que o espírito inquisitivo e verdadeiramente exploratório de Alberto e António Arruda e de Sara Eckerson não lhes permite o “luxo” da imobilidade instigando-os a percorrerem vastos territórios musicais em busca de estímulos que lhes alimentem as ideias e as realizações musicais abundantes que lhes têm expandido a discografia a um ritmo assinalável (cinco álbuns e dezena e meia de EPs desde que se estrearam em 2011, com mais de metade dos títulos concentrados nos últimos 4 anos).
Neste novo álbum, não há um “centro” evidente. Nas notas de lançamento, explica-se que as “faixas resultam de horas infindas de improvisos ao vivo” em que o grupo implementa diferentes processos criativos esperando assim obter igualmente diferentes resultados musicais. Pode concluir-se que a nossa surpresa ao escutar uma nova guinada no caminho dos Niagara seja tão genuinamente franca quanto a dos próprios membros que, claramente, não estabelecem planos que lhes guiem os passos antes de encetarem cada uma das suas jornadas.
Afastados do por eles já bem mapeado terreno da pista de dança, os Niagara propõem aqui uma cartografia mais emocional, ensaiando, logo num primeiro momento, um intrigante cruzamento entre um plano melódico quase new-age e o que soa a uma implosão rítmica que nos dá uma camada de propulsão fragmentada, altamente abstracta. O momento seguinte funciona, de certa maneira, como o inverso, com a percussão que soa orgânica e tradicional (no sentido Giacometti do termo…) a assumir a dianteira e a traduzir movimento, enquanto em segundo plano e em contraponto há um drone em loop que parece traduzir imobilidade. “Tília”, sugerem os próprios Niagara nas notas de lançamento, “remete os ouvintes para o território de Forbidden Planet, não apenas por causa do tom sci-fi vintage, mas também porque se enreda no mesmo tumulto psicológico que o filme de 1956 explora”. De facto, o filme de culto de Fred M. Wilcox, em parte baseado no clássico drama The Tempest de William Shakespeare, teve no pioneiro score electrónico a cargo de Louis e Bebe Barron, o perfeito equivalente “musical”: um conjunto de pulsares e ruídos de absoluta novidade analógica que há quase 65 anos traduziam uma ideia de incerto futuro que então se começava a impor na geração dos baby boomers.
O tríptico “Ano-B”, “Ano-C” e “Ano-A” (por esta ordem, mas entrecortado ainda por um tema de título “46 x 92m”), esclarecem-nos ainda as já referidas notas, “florescem da mesma raiz e usam todos percussão acústica para acrescentarem uma vida mais orgânica à natureza líquida da música”. São três passagens de crescente abstracção em que os elementos percussivos são usados para pintarem a difusa paisagem em que rapidamente somos mergulhados, uma espécie de música exótica para o século XXII, plena de mistério e de ecos de estranhas formas de vida. Como se acabássemos de chegar a um planeta distante e ousássemos os primeiros passos fora da cápsula em terreno perfeitamente desconhecido.
“46 x 92m”, o tal tema que interrompe o fluxo do já mencionado “tríptico”, é um exercício de “quarto-mundismo” que nos sugere uma actualização de algumas ideias que se produziam no Japão digital dos anos 80, quando o DX-7 da Yamaha tanto servia para traduzir novas ideias de espaço como para evocar orquestras de gamelão. É uma vívida tela de tropicalismo pintada em cores de VHS que apetece deixar em repeat do nascer ao por do sol.
“Há algo a acontecer”, dizem-nos, em jeito de conclusão, os Niagara. Há, de facto. E não temos que perceber exactamente o que é para nos deixarmos ainda assim arrebatar.
Rimas E Batidas, May 2020
On ‘Pais & Filhos’, or Parents & Sons, Niagara speak to their influences in a canny, impressionistic way on one of the sweetest Príncipe bits in memory. ’21:44’ sounds like scratchy echoes of ‘SAW VolII’ and the iridescent synth plumes of ‘Tília’ seem to riff of some kind of subaquatic Atlantic Drexicyan mystery, whilst the sloshing rhtyms and golden pads of ‘Any-B’ diffract that 20,000 leagues vibe into Niagara’s lushest run of music across the frothed FM synth voices to Hassellian dream sequences and gorgeous scenes of lilting, rhythmelodic exotica.
Boomkat, May 2020
Ali atrás no mês de Maio de 2020, “Pais & Filhos” saía em formato digital, mantendo a rolar um fluxo editorial em plena incerteza da Primeira Vaga. Agora em vinil, o álbum reapresenta-se ao mundo, também com nova arte de Márcio Matos, e o que escutamos chega-se mais ao núcleo do imponderável estilístico que são os Niagara. Ou seja, cada disco do trio baseado em Loures oferece, desde logo, a surpresa do som, e funciona de facto como documento da fase de exploração em que se encontram. A trilogia de faixas “Ano-A”, “Ano-B” e “Ano-C”, por exemplo, encontra um ponto confortável entre dub, ambientalismo e gravações de campo, ajudando a definir a música como matéria orgânica capaz de se alterar a si mesma. Em torno dessa base evoluem quatro outras faixas, outras tantas sensibilidades que tão naturalmente se focam em tons que nos parecem saídos de um arquivo histórico selecto como descobrem vias que ainda por catalogar. No meio, Niagara ainda únicos.
Flur, December 2020
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