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Texto: Mariana Duarte

Daniel Veiga cresceu numa família em que a música era hábito quotidiano e partilhado. “Tenho memória de aos seis anos acordar aos sábados e já haver música a tocar de manhã.” Semba, samba, kizomba, kuduro; muito Bonga e Paulo Flores, para manter Angola bem junto ao corpo. “Imaginava sempre como seria fazer uma música. Chegou uma altura em que comecei a fazer beatbox, então quando imaginava algo tentava fazer isso instrumentalmente, usando o meu corpo.”(…)

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Por Vitor Belanciano

A aventura editorial portuguesa Príncipe Discos continua com o rumo certo, como se pode depreender do facto de alguns dos seus lançamentos de 2017 (com destaque para o álbum Nídia é Má, Nídia é Fudida, de Nídia) constarem em várias listas dos melhores do ano para diversas publicações de todo o mundo.

Um dos lançamentos mais significativos da editora ocorreu precisamente no culminar do ano que terminou. Falamos do duplo EP de doze temas de DJ Lycox, um dos membros do colectivo Tia Maria Produções, que viram o disco Tá Tipo Já Não Vamos Morrer, ser lançado pela mesma editora em 2014. Lycox, de apenas 19 anos, nasceu em Portugal e viveu em Mira Sintra até ao início da adolescência, acabando por se mudar com a família para um dos territórios suburbanos de Paris, onde ainda reside.

Como outros parceiros da mesma aventura editorial o seu léxico é quase sempre instrumental, dançante e inspirado em linguagens como o kuduro, o afro-house ou o tarraxo, que concilia com elementos tropicalistas mais globais. Ao contrário de outros músicos-produtores da mesma editora, pelo menos neste disco, não faz do desvario e da apoteose rítmica a sua marca, optando quase sempre por desenvolver elementos melódicos e propor alguma respiração espacial, apesar da base rítmica ser decisiva.

É um disco mais de sonhos do que de pesadelos, apesar dos ambientes negros e neuróticos e da dinâmica quase tecno de La java, Nichako ou de Quarteto fantástico. No entanto, quando se ouve Solteiro, Virgin Island, Sky ou o balanço quase house de Domingo abençoado, o que vem ao de cima é o equilíbrio do design sonoro global, com ritmos mais desacelerados e a criação de ambientes mais sensíveis.

É verdade que na maior parte dos lançamentos da editora (Marfox, DJ Firmeza, Nigga Fox, Normal Nada, Black Sea Não Maya ou Nídia) se vislumbra suficiente maleabilidade para propostas onde a adrenalina coabita com espaços mais tranquilos, mas talvez nenhum até agora o tivesse conseguido com a mesma simplicidade e naturalidade que Lycox.

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NORMAL NADA_ipsilon

Texto Vitor Belanciano
Fotos Marta Pina

E quando se pensava que já não haveria grande espaço para surpresas eis um magnífico EP de sete temas de Normal Nada. Encontrámo-nos com ele há dias para tentarmos perceber quem seria a mente por trás daquela música salutarmente doida, influenciada por tanta coisa (tecno, house, África, sensualidade, energia, rave, ruído, loucura, fé, religião, álcool, bater com a cabeça na parede, construir em vez de destruir) mas totalmente impossível de cartografar.

Poesia. Mas não diáfana, etérea, mofa. Com vida em convulsão lá dentro, nervosa, intricada, revolta. Talvez seja isso. Normal Nada é um poeta. Sim, ele tem nome próprio, mas não nos quis dizer. Sim, ele tem idade, talvez para aí uns 26 ou 27 anos, imaginamos. Sim, ele deve ter uma actividade que lhe permite pôr pão e manteiga em cima da mesa, mas não nos quis fala dela, apenas disse que “era pobre, muito pobre”. E sim, tem um percurso, se é que se lhe pode chamar isso, para trás. Mas também não fala muito sobre ele. É alguém que acha que a música fala por ele.

Mas há coisas que soubemos da sua boca. Nasceu na Guiné-Bissau, de onde veio aos 12 anos. O pai, “Augusto Mariano, o melhor guitarrista da Guiné-Bissau”, afirma, “tocava com o Justino Delgado, um dos melhores artistas do país”, por isso a música sempre fez parte da sua vida. “Ainda por cima”, diz, pertence à etnia dos balanta, “que gostam muito” de cantar. “É a primeira coisa que fazemos ao acordar”, acrescenta.

Nunca teve aprendizagem formal de nenhum instrumento, mas afirma que se lhe derem para a mão “uma guitarra, um piano ou uma bateria” tocará todos esses instrumentos com desenvoltura de forma intuitiva. “Não sei como é que isso acontece, mas é verdade. Desde os oito anos que é assim.”

Na sua visão a música que a geração do pai fazia era mais “real”, pela relação física com o instrumento e porque existia uma aprendizagem mais exigente. Hoje é “como se fosse ficcionada”, no sentido em que o aleatório faz parte do processo. “Quando não se sabe tocar algumas coisas inventa-se!”, afirma ele por entre sorrisos. “Perdem-se umas coisas, ganha-se outras”, reflecte, argumentando que não gosta de hierarquizar os géneros de música, que acha todos válidos.

“Se alguém ouvir a minha música e a dançar ou ficar feliz, para mim isso basta. Faço o que sinto, não me interessam os rótulos. Antes de alguém chamar trap a esse tipo de música, já eu achava que fazia trap, mas não lhe dava esse nome. Na minha música não há mais ou menos, existe apenas o meio, a harmonia, um certo equilíbrio, pelo menos para mim.”

Quando fala sobre o bairro onde vive – Santo António dos Cavaleiros – os seus olhos ficam mais brilhantes. Discorre sobre o filho, a quem diz querer “deixar boas recordações com a música”, e sobre os amigos – “pobres” como ele mas a quem oferece a sua música “como factor de esperança e até de meditação.” Às tantas lança de forma surpreendente: “Gostaria de ajudar as pessoas através da minha música, dar-lhes força. Gostava que a minha música entrasse no subconsciente, de alguma forma, e desse alento às pessoas.”

Em alguns temas do disco há apontamentos vocais, não chegam a ser canções, mas fica a ideia que poderiam resultar como tal. À sua volta todos o questionam porque não opta por cantar. “Dizem-me que, assim, poderia ser famoso”, ri-se, “mas eu não quero ser famoso! Quero ser normal. Só desejo ter uma vida normal. O meu pai foi famoso e foi o primeiro a dizer-me: filho, chamar a atenção, não é bom!”

Até agora a sua actividade tem sido realmente discreta, estando dispersa pela internet, assinada com vários pseudónimos (Qraqmaxter CiclOFF, Erre Mente). Curiosamente quem o pôs em contacto com a Príncipe, em 2011, foi um jornalista americano que tinha ouvido uns temas da sua autoria na internet e ficou curioso. Aproveitando uma estadia em Lisboa, acabou por chegar a Normal Nada, através do artista Márcio Matos, o autor das capas desenhadas à mão da Príncipe e membro da editora.

Agora lança um primeiro disco, mas deseja ir mais longe, tendo muitas ideias que quer desenvolver. Não espanta que assim seja. Cada um dos temas de Transmutação Cerebral aponta para pistas muito diversas, do ruído digital mais iconoclasta à melodia mais envolvente. Aurabi desenvolve-se por entre efeitos dub e ritmos dancehall em cenário cósmico, enquanto as duas partes de Kakarak 1&2 disparam na direcção de uma rave alucinada com um ritmo mecânico irresistível e Nubai (wo lo lol) provoca sensações paradoxais, com uma voz intima e dolente a dizer-nos “tou de moca”, enquanto à sua volta o mundo gira em grande corrupio. E no final há Tarraxinha da calopsita, ritmo tranquilo e meloso, cenário tropical hiper-realista, impossível não balancear.

Sim, Normal Nada, é um poeta. Um poeta assumidamente esquivo num mundo dominado por burocratas insonsos, autor de uma música que vai muito além da realidade sem alternativas com que nos querem brindar. Haja esperança.

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NIDIA MINAJ_ipsilon

Por Mariana Duarte

Quando não está a fazer batidas, Nídia Minaj está sempre a pensar nelas. “Estou a falar contigo e já estou com ideias para uma batida”, diz ao telefone a partir de Bordéus. “É um vício, como fumar cigarros. E eu tenho de alimentar o vício”, conta, como se a sua vida dependesse disso. Aproveita os intervalos de almoço da escola (anda no 11.º ano) para se enfiar no quarto a fazer música – “às vezes até falto à primeira aula da tarde por causa disso” – e está sempre com beats na ponta da língua. “Estou constantemente a fazer melodias com a boca, como se fosse beatbox, e depois tento passá-las para o computador.”

NidiaIpsilonMar13

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O EP de Blacksea Não Maya e Piquenos DJs do Guetto destacado por Vitor Belanciano no suplemento Ípsilon do jornal Público: “Eis um grupo de jovens portugueses capazes de propor uma música jubilosa, genuína, profundamente viva.” Cliquem na imagem abaixo para ler melhor.

The split EP by Blacksea Não Maya and Piquenos DJs do Guetto reviewed for Ípsilon, the weekly cultural magazine included with daily newspapaer Público: “Here’s a group of Portuguese youngsters able to present music that is joyous, genunine, profoundly alive.” Portuguese language only, click image to enlarge.

IPSILON 6DEZ2013

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Capa e artigo extenso no suplemento Ípsilon do jornal Público, sobre a música, métodos, ética e sentimentos do nosso homem DJ Marfox e os bons rapazes dos Piquenos DJs do Guetto e Blacksea Não Maya. Cobertura fantástica numa altura em que a Príncipe está a ajudar a subir o ritmo de Lisboa com a continuada noite mensal e dois novos vinis 12″ no mercado. Cliquem nas imagens e ampliem para ler o artigo!

Ípsilon is the weekly cultural magazine of national daily newspaper Público. Check the cover regarding an in-depth feature covering the music, methods, ethics and feelings of our guy DJ Marfox and the good kids from the Piquenos DJs do Guetto and Blacksea Não Maya crews. Awesome coverage in a crucial time when the label is helping raise the pulse of Lisbon with an ongoing monthly night and two new vinyl 12″s out on the market.

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